quarta-feira, 3 de março de 2010

Should I stay or should I go?

Não precisa nem abrir o jornal local ou acessar os portais de notícia: a violência e a criminalidade estão escancaradas na cara da gente diariamente em Porto Alegre. Basta abrir a janela do carro, a porta de casa ou dar uma volta pelo quarteirão pra ver cenas chocantes de miséria, drogadição, assaltos, assassinatos. Tudo isso já virou paisagem pra quem vive na cidade, faz parte do cenário urbano.
O Brasil está num excelente momento econômico, o dinheiro voltou a circular aqui dentro, as classes baixas agora têm acesso ao crédito e podem finalmente, realizar seus sonhos de consumo. O mundo todo está de olho em nós. Porém, o país nunca esteve tão carente de segurança pública, de políticas educacionais e sociais mais intensas. Sobra dinheiro e falta tranqüilidade pra quem vive aqui.
Pois eu tive o privilégio de ganhar há alguns anos uma cidadania italiana, que me rendeu um passaporte vermelho da comunidade européia. Eu posso entrar e sair do Velho Continente como se tivesse nascido lá, não preciso enfrentar as longas filas da imigração e nem ficar dando explicações pra ninguém. Posso me dar ao luxo de comprar uma passagem só de ida se esta for a minha vontade. E confesso que vendo todos os absurdos, todas as violências, toda a degradação humana que eu vejo diariamente nessa cidade, nesse país, me sinto fortemente tentada em tirar o passaporte da gaveta, vender a mobília e comprar a tão sonhada passagem só de ida pra algum país da Europa pra poder viver com o mínimo de paz. Por quê de que adianta ter acesso à crédito e não poder freqüentar um parque num domingo de sol sem se sentir num filme de faroeste, com tiro rolando de um lado pro outro? De que adianta ter facilidade em adquirir uma casa própria, se é necessário enchê-la de grade, alarme, cerca elétrica, cão de guarda e segurança privada pra poder dormir minimamente sossegado? De que adianta financiar em 36 meses o tão desejado carro zero quilômetro, se na próxima esquina um vagabundo vai te enfiar um cano de revólver na cara e levar o teu automóvel? Isso tudo pra não citar aqueles outros vagabundos que a gente elege e que depois na cara dura, roubam o nosso tão suado dinheiro pra esconder nas cuecas ou nas meias.
Eu não sei se o meu plano de vida A vai dar certo e por enquanto estou apostando nele porque acho que vale a pena. Mas ao menor sinal de que a maionese vai desandar, coloco meu plano B de ir embora daqui em prática. O passaporte já está pronto, falta só a passagem de ida.

terça-feira, 2 de março de 2010

Pra viajar no cosmos não precisa gasolina

Adquiri um novo vício nessas noites lindas e frescas de lua cheia que tem feito em Porto Alegre: pego minha cadeira de praia, coloco na sacadinha do meu apartamento, apago todas as luzes da sala, desligo a TV, ligo o IPod em alto, rebaixo ao máximo o encosto da cadeira e me perco olhando pro céu claro, pras tantas estrelas que são possíveis de se ver na nesga de vista que eu tenho da sacada. Uma leve brisa corre pra lá e pra cá e torna tudo muito mais agradável. E então eu viajo e corro pelo labirinto dos meus próprios pensamentos. Não fico filosofando, não fico matutando sobre coisas sérias, simplesmente deixo os meus neurônios livres para vagarem por onde bem entenderem. E tem sido tão bom fazer isso que me dói saber que a fase da lua cheia está quase chegando ao fim, me restam poucos dias pra aproveitar este espetáculo da natureza e relaxar.
**Melhor trilha sonora pra deitar e olhar o céu estrelado de lua cheia: Corner of the Earth – Jamiroquai.