terça-feira, 16 de junho de 2009

Vivendo e aprendendo

Até uma certa altura da vida, normalmente na adolescência, a gente detesta ouvir “conselho” dos outros, exceto se os outros forem adolescentes como nós. Detestamos ouvir aqueles sermões intermináveis dos mais velhos, achamos uma chatice, uma perda de tempo e temos a absoluta certeza de que aquilo jamais terá utilidade alguma na vida da gente. Porque quando somos adolescentes pensamos que seremos assim pra sempre. Ledo engano.

Quando eu era mais nova, minha mãe enchia o meu saco pra que eu fizesse aula de inglês e eu detestava perder as minhas tardes de puro ócio em função disso. Fiz um curso de inglês ao trancos e barrancos e achei que aquilo só seria útil caso eu resolvesse viajar pelo exterior. Ledo engano. Hoje, bem longe da adolescência, trabalho numa multinacional americana e falo/escrevo/ouço em inglês a maior parte do tempo. No começo penei bastante e tive que fazer aulas de reforço e arrisco a dizer que se eu tivesse escutado a minha mãe quando era adolescente e tivesse encarado com afinco as aulas, teria sido tudo tão bem mais fácil.

Quando eu estava no colégio, eu odiava as aulas de matemática. Odiava com todas as letras maiúsculas e aquilo sempre foi um grande problema e um enorme trauma na minha vida. Aquele monte de números que a professora colocava no quadro negro era grego pra mim, eu não entendia nada e fiquei em recuperação diversas vezes por causa disso. Chorava e sofria muito em casa me sentindo uma mula em forma de gente. Fazia aulas particulares mais do que as aulas regulares do colégio e a professora sempre dizia que eu precisava resolver aquele embate com os números para que tudo, então, ficasse mais fácil. Não consegui. Nas provas em que eu passava, eu colava até não poder mais e na outras eu subornava os professores, que sabiam da minha deficiência e aceitavam o suborno. Resolvi então que iria fazer uma faculdade em que jamais fosse necessário usar números e optei pela publicidade. Tranquilaço. Hoje, quase 10 anos depois de formada, trabalho numa multinacional americana onde tudo, mas tudo MESMO, gira em torno de números. Voltei a me sentir uma mula em forma de gente, olhando praquele amontoado de dígitos que lotam os e-mails e os arquivos que eu recebo.

Meu pai é, sempre foi e sempre será uma pessoa super hiper mega ultra high power organizada em relação às suas finanças pessoais e ele sempre, mas sempre MESMO, nos disse que a gente deveria poupar o dinheiro que a gente tivesse, por mais pouco que ele fosse. Pra vocês terem uma idéia, meu pais jamais comprou alguma coisa parcelada na vida dele, tudo o que ele tem foi comprado à vista, preferencialmente em cash, nota sobre nota. Meu pai jamais entrou no negativo no banco, isso pra ele é o fim do mundo. Parcialmente eu ouvi o conselho dele e poupei algum até um determinado ponto da minha vida, depois tudo virou uma várzea e eu me perdi no consumo exacerbado. Afinal de contas, os lucros das minhas ações aplicadas na bolsa e os juros da poupança não irão comigo pro caixão, certo? Dinheiro foi feito pra gastar, esse é o meu mantra. Ledo engano, queridinha. Dinheiro foi feito pra gastar sim, mas com muita moderação.

Todo mundo me pergunta quando eu vou casar e principalmente, quando terei filhos. Isso é uma coisa não resolvida na minha vida, eu realmente não sei se quero a duplinha marido-filhos. Gosto da minha liberdade de poder bater a porta do meu apartamento e sair sem hora pra voltar quando eu bem entender. Gosto de poder dormir até às 3h da tarde no domingo. Gosto de poder chegar em casa e ficar em silêncio, curtindo a minha solidão. Não consigo conceber a idéia de alguém dependendo de mim pra tudo, 24 horas por dia. Sou aquariana e portanto, livre, leve e solta por natureza. Pois bem: há alguns finais de semana fui a um restaurante e vi uma mulher de uns 40 e muitos anos com um bebê no colo que não era seu neto. Era seu filho. Não consegui parar de olhar aquela mulher com aquele bebê e confesso que a cena não me desceu. A combinação mulher de 40 e tantos + bebê de 1 ano não fechava. Mas era real. Domingo fui a outro restaurante e a mesma cena se repetiu na mesa ao lado: casal com 40 e muitos + bebê de poucos meses. Tudo bem que a medicina evoluiu, que hoje uma mulher pode engravidar tranquilamente com mais de 40 anos, mas não adianta, não combina. Daí quando eu vi as duas old mothers com seus new babies, eu fiquei pensando se este não será o meu destino, já que até hoje eu ainda não resolvi se quero ou não essa vida pra mim. E confesso que fiquei preocupada.

Pois é, a gente vai vivendo, vai vendo, ouvindo e aprendendo. Às vezes a gente aprende a lição na hora em que ela está sendo passada, às vezes a gente demora mais e precisa levar umas pancadas da vida até registrar e às vezes a gente nunca aprende.

Um comentário:

PatPouzada disse...

eh verdade! concordo com todas as tuas observações. só que eu ja decidi uma coisa:sim quero esse cenario marido+filhos, mas nao depende so de vontade em alguns casos, e sim de destino, hehehehehe.